terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sonhos Reais - versão enviada

Damen me beijou na testa ao se despedir e fui caminhar pelo jardim de mil e uma flores e árvores, que ele havia feito para meus passeios diurnos. Ele me amava, sabia disso agora. Pensava em tudo o que fizera por mim. Pôs a própria vida em perigo para me manter em segurança, bem como outros como eu. O toque dele, não podia negar mais, me fazia delirar. Estava pronta para me entregar a ele. Foi neste instante que uma mulher tão linda quanto à aurora veio na minha direção, em passos suaves e coordenados, felinos. Possuía uma perfeição quase inumana. Olho ao redor, nada, mais ninguém. Ela sorri de canto, se aproxima mais, num piscar de olhos, está me segurando pelos ombros.
- Uma negra nessa época! Sofreu muito? – fez uma breve pausa. – Pois, vai sofrer muito mais. Tadinha, é traumatizada. Não consegue gritar em situações de perigo?
Comecei a me debater. As imagens das senhoras me torturando, por pensarem que eu era amante de seus maridos, me vinha à mente, junto com dos escravos e dos próprios senhores querendo me violentar.
- Nossa, eu sinto tanta pena de você. Foram quantas chibatadas até agora? – sorria maternalmente.
Ela me largou, quase não sentia minhas pernas. Comecei a correr, tropeçava e me ralei toda. A vinte metros da porta meu cabelo foi bruscamente puxado e senti seu hálito quente no meu pescoço.
- Tolinha.
Ela me arrastou. Fui arremessada, bati a cabeça e um líquido quente e viscoso escorreu pela fronte. Levantei, joguei meu corpo contra o dela e fui atirada longe. Ficamos em pé, uma de frente para a outra, como numa rinha. Ela mostrava seus dentes e eu a ataquei com golpes de capoeira.
- Você está tão divertida desta vez.
- Flor? – a voz de Romildo, um dos escravos.
- Cansei da brincadeira. Vou curtir as praias do Rio com Damen. Até a próxima!
Sem que eu pudesse pensar, quebrou meu pescoço com destreza, tudo ficou escuro e meu corpo inanimado deslizou pelo dela. Acordei sobressaltada no meu quarto, Damen lindo ao meu lado. Por mais que soubesse que era um pesadelo, fruto da história que ele havia me contado, sobre nossa vida no Brasil em 1763, ainda sentia o perfume de Drina no ar e o eco das suas últimas palavras em meu ouvido. Tinha parecido tão real e Damen não me contava sobre minhas mortes, pois não presenciou nenhuma. Só sei que a dor da morte estava em mim, como nunca.

2 comentários:

Camila Lemos disse...

Gisele, gostei muito do seu conto!
Esté muito bem escrito.
Gostei bastante do fim!

Gisele Galindo ou simplesmente Gi. disse...

Mt obrigada! Seus comentários são importantíssimos.
;) bjs***