terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sonhos Ardentes

Eu o vi pela primeira vez, caminhando de pés descalços sobre a úmida areia de Copacabana. Ele me olhou e piscou com displicência. Senti certa revolta. Onde já se viu tamanho atrevimento? – minhas amigas estavam um pouco distantes e entretidas com os novos magazines. Era 22 de setembro de 1924, aniversário de Arlete e todas estávamos vibrando com seus 18 anos, ela era a mais velha de nós. Claro que nossos pais estavam de olhos grudados através de seus criados, a sorte era ter a amizade de Carmem, minha ama, como gostava de chamá-la, ou carrasca, quando obedecia meus pais cegamente. Quando olhei de volta para a praia, havia sumido. O rapaz mais formoso que já vira em toda minha vida, e a revolta deu lugar a decepção. Laura me chamou a atenção para uma fazenda branca linda, colocou-a em volta do corpo e sorriu com o possível vestido, sorri em retribuição. Ao olhar de novo, um vento repentino quase leva meu chapéu e aos meus pés estava uma tulipa vermelha ainda em plena vida.
Naquela noite não conseguia tirar o rapaz da mente. Só pensava na camisa de linho mal abotoada, os sapatos em sua mão, balançando lentamente, na calça sarja com as barras molhadas pelas singelas ondas do mar que as alcançavam, seus pés, suas pegadas... Logo estava com os pés umedecidos pela areia daquela praia, banhada pelos raios da aurora. Ele caminhava até mim. Minhas mãos tocavam seus braços. As dele, levemente, em meus cabelos. Deslizei meu olhar pelo peitoral dele, cheguei aos seus olhos, e voltei aos lábios, que sussurraram algo. Sentia sua respiração ofegante na minha bochecha. Minha mão direita passeou até seu pescoço e fez morada na nuca. Enquanto a dele seguiu para minha cintura com pressão necessária. Meu peito arfava de desejo. Nossos lábios cada vez mais próximos. Assim que se tocaram, despertei sorrindo em meu quarto e para minha surpresa, uma tulipa vermelha repousava ao meu lado.
Fiquei confusa. Não sabia se voltava a sonhar ou se vestia meu penhoar e corria para a praia.

2 comentários:

Camila Lemos disse...

SÉRIO. O fim dos seus contos são MUITO bons!
Quando já estava envolvida com a história, você leva para uma outra perspectiva. E quando acaba dá uma vontade continuar lendo, sabe? Hahahah
Parabéns, está muito legal!

Gisele Galindo ou simplesmente Gi. disse...

Mt bom saber sua opinião, Camila. Estimula. Vlw!
;) bjs***