domingo, 26 de setembro de 2010

CLAURURA (terror)

Mais uma vez aquela vontade de arranhar percorria suas veias em chamas. Ele degustava, sádico, seus pensamentos consumidos pela loucura do instante. Borbulhava em suas entranhas o desejo de matá-lo ali, naquela hora. Tudo seria exterminado num simples corte certeiro, horizontal na garganta. Delicioso.
Precisava controlar seu lado perverso. Mas seu imaginar era incontrolável. Ela não podia com ele, por ora.
Um espasmo e a crescente cobiça por mais.
Apesar da consciência falha, sabia que necessitava de ajuda. Apertou os punhos na lateral do corpo, pendeu a cabeça para a direita, visualizou uma adaga ao brilho do luar. Fixou-se na lua a cima. Pediu clemência.
Um espasmo, dois espasmos e a crescente cobiça por mais.
Buscou por lucidez. Nada encontrou. Ele continuava a sorrir de lado. A ira cintilava em seus olhos como fênix mutilada. Mil situações percorriam sua mente. Os “ses” eram constantes incógnitas e felizes. No entanto, estava longe da alegria de um deles se tornar real. Já era tarde demais.
Um espasmo, dois espasmos, três espasmos e a crescente cobiça por mais.
Outra vez aspirava pelo fim de tudo aquilo antes que enlouquecesse irremediavelmente. Em vão. O prolongamento se estendia por seu corpo, cortando-o, dilacerando-o. Queria cerrar os olhos logo, esquecer para o amanhã chegar. Não podia se conter por muito mais. Seu tempo era curto. Seus anseios insanos. Com dificuldade foi pegar a adaga, ele agarrou sua mão ainda com força extrema.
Um espasmo, dois espasmos, três espasmos, quatro espasmos e a crescente cobiça por mais.
Seu corpo contorceu-se e uma lágrima queimou lhe a face. Pretendia sair ilesa dali, mas não seria possível, de qualquer forma. A dificuldade se arrastava atrás dela, arfando ilusões de um futuro promissor. Pensou em pedir-lhe um beijo de adeus. Não o fez. Mordeu os lábios em reprovação.
Um espasmo, dois espasmos, três espasmos, quatro espasmos, cinco e a crescente cobiça por mais.
Tentou outra vez recobrar a consciência enclausurada. Os suores se misturavam e respingavam na loucura daquela noite lasciva. Sem suportar mais, cravou as unhas em suas costas e puxou-o para si. Ele gemeu entre dentes e caiu. Estava acabado. Os dois, exaustos, adormeceram na varanda em meio às roupas rasgadas.


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