domingo, 26 de setembro de 2010

CERTEZA (terror)

Corria desesperada por entre as árvores, a névoa a engolindo. Nenhum pensamento se fazia ouvir. Todos os sentidos perderam razão de ser. O solo por si já era uma armadilha. Cada passo um tropeço. A corrida tornara-se trôpega. Os galhos, braços do inimigo. As folhas secas apenas ajudavam a compor aquele cenário macabro. Vislumbrou o pouco do céu cinzento, que demorara a nascer com a salvação.
Não adiantava rezar mais. Estava completamente lambuzada de lama e lágrimas. Já não lembrava como se fazia para respirar. Vozes se materializavam e dançavam a sua volta. Desnorteando-a. Imagens confusas saltavam na sua frente. Saias rodadas de sangue; crianças brincando de cortar; velhos rindo dela; palhaços lusco-fuscos, puxando seu cabelo; pernas de pau, girando em longas capas lúgubres; um arpão arremessado; a mão fúnebre a chamava; uma lâmina brilhava, enquanto um sorriso a conduzia e penetrava.
Sacudiu a cabeça zonza. Seus olhos perscrutavam em busca de esconderijo eficaz. Jogou-se por fim atrás de uma pedra. Instintivamente segurou a mão esquerda contra o peito arfante. Olhou, sangrava. Naquele momento soube. Era o fim. Não importava onde estivesse ele a acharia.


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