terça-feira, 28 de setembro de 2010

DESTINO ÍNTIMO

ESTE É UM LIVRO QUE ESTOU ESCREVENDO, COMO JÁ POSTEI ALGUNS CAPÍTULOS EM UNS SITES, DECIDE QUE JÁ ERA HORA DE ABRIR UM POST AQUI NO MEU BLOG. EXISTIA UM BLOG DO LIVRO ON LINE, MAS POR CERTOS MOTIVOS CONGELEI ELE. ENTÃO LÁ VAI O PRIMEIRO CAPÍTULO AQUI NO CAMINHOS PARA LÁ. ESPERO QUE GOSTE. QUEM SABE UM DIA PUBLICO... RS.




CAPÍTULO 1


Seria uma manhã como outra qualquer, se não fosse um detalhe. Os gritos. Aqueles gritos ecoando nas paredes. Ricocheteando em minha mente. A dor.

A enfermeira Lúcia entra aos tropeços, atrás dela dois homens que mais parecem armários. E pela primeira vez, desde que abri os olhos hoje, tudo fica claro. Devo estar novamente me debatendo.

Eles me seguram, empurram minha cabeça e puxam o meu braço como se fosse uma peça separada do meu corpo, mas qual deles? O direito, o esquerdo? O que importa? Eles o esticam. O importante é aquele fino metal. De repente, tudo fica lento, sem foco e ele, frio, penetra em minha pele vagarosamente calorosa. Injetam. E tudo se acalma.

Fecho os olhos pela primeira vez hoje.



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“BURNING SUN” - Sol Que Queima (de Vitor Hugo Gali)

O porto da cidade de Santos estava lotado como sempre, era 1892 e as pessoas se apinhavam nas ruas procurando por um conhecido, muitos iriam para São Paulo, em busca de nova vida. Dentro do automóvel dois homens mantinham uma conversa, sem muito prestar atenção um ao outro enquanto o motorista tentava desviar das pessoas nas ruas. No meio dessas pessoas uma garota com olhar assustado assistia tudo a sua volta sem realmente enxergar algo. O motorista desviou de um pequeno garoto, mas não foi hábil ou rápido o suficiente e quase atingiu a moça, que com o susto caiu no chão, causando uma comoção ao redor, que logo foi esquecida.

Existências

A notícia da abundância de ouro no Brasil colônia circulava por todas as sociedades e eu estava cansado e precisava de novos ares. Então decidi me aventurar pelas terras brasileiras. Assim que pisei na fofa areia da praia pude sentir sua presença.
Segui para as minerações e como no século XVIII, 70% da população mineira era representada por escravos trazidos do nordeste, algo me dizia que você poderia ser um deles. Não errei e fui te encontrar num dos novos quilombos formados, o do rio das Mortes, em Minas Gerais.
Mas não era uma escrava negra e sim uma indiazinha bem retraída, apesar das vestes típicas e minúsculas. Sua sorte era ser a protegida de Firmino. Aliás, esse foi um enorme problema para chegar até você. Levei semanas para ganhar a confiança do homem e meses a fio para conseguir a sua, Ever.
- E qual era o meu nome nessa época?
Buriti, mas Firmino a chamava carinhosamente de Eçapira. Era no mínimo curioso tudo isso.
Passamos a namorar as escondidas e bem devagar. A época pedia certo polimento e você, como já disse, era bem retraída. Mas nada se compara aos anos 60, você me enlouquecia. Com certeza uma história para outro dia.
Eu sempre esperava pelos nossos encontros e armava planos cada vez mais mirabolantes para que eles acontecessem. Até que um dia, eu estava tão mergulhado em suas palavras e risos, que nem percebi a presença de Firmino, que nos flagrou, te arrastou com ele e me jurou de morte. Você ficou desesperada e eu disse que tivesse calma. Mas eu estava errado, devia ter ido atrás de vocês e não esperado ele esfriar a cabeça.
Hoje sei quem a matou, mas antes não fazia idéia, acusei-o.
Na segunda metade do século XVIII, a mineração entrou em decadência e a vida de Firmino também. Permaneci no Brasil até a primeira metade do século XIX, fase conhecida hoje como Renascimento Agrícola no país. Parti para a Europa com, bem, não vale a pena falar disso.
- Você sempre me amou mesmo, de qualquer jeito, em qualquer forma.
Você é o amor da minha existência, Ever.





***
Buriti :Indígena :Árvore Da Vida.
Eçapira :Indígena :O Que Se Procura.

Sonhos Ardentes

Eu o vi pela primeira vez, caminhando de pés descalços sobre a úmida areia de Copacabana. Ele me olhou e piscou com displicência. Senti certa revolta. Onde já se viu tamanho atrevimento? – minhas amigas estavam um pouco distantes e entretidas com os novos magazines. Era 22 de setembro de 1924, aniversário de Arlete e todas estávamos vibrando com seus 18 anos, ela era a mais velha de nós. Claro que nossos pais estavam de olhos grudados através de seus criados, a sorte era ter a amizade de Carmem, minha ama, como gostava de chamá-la, ou carrasca, quando obedecia meus pais cegamente. Quando olhei de volta para a praia, havia sumido. O rapaz mais formoso que já vira em toda minha vida, e a revolta deu lugar a decepção. Laura me chamou a atenção para uma fazenda branca linda, colocou-a em volta do corpo e sorriu com o possível vestido, sorri em retribuição. Ao olhar de novo, um vento repentino quase leva meu chapéu e aos meus pés estava uma tulipa vermelha ainda em plena vida.
Naquela noite não conseguia tirar o rapaz da mente. Só pensava na camisa de linho mal abotoada, os sapatos em sua mão, balançando lentamente, na calça sarja com as barras molhadas pelas singelas ondas do mar que as alcançavam, seus pés, suas pegadas... Logo estava com os pés umedecidos pela areia daquela praia, banhada pelos raios da aurora. Ele caminhava até mim. Minhas mãos tocavam seus braços. As dele, levemente, em meus cabelos. Deslizei meu olhar pelo peitoral dele, cheguei aos seus olhos, e voltei aos lábios, que sussurraram algo. Sentia sua respiração ofegante na minha bochecha. Minha mão direita passeou até seu pescoço e fez morada na nuca. Enquanto a dele seguiu para minha cintura com pressão necessária. Meu peito arfava de desejo. Nossos lábios cada vez mais próximos. Assim que se tocaram, despertei sorrindo em meu quarto e para minha surpresa, uma tulipa vermelha repousava ao meu lado.
Fiquei confusa. Não sabia se voltava a sonhar ou se vestia meu penhoar e corria para a praia.

Sonhos Reais - versão enviada

Damen me beijou na testa ao se despedir e fui caminhar pelo jardim de mil e uma flores e árvores, que ele havia feito para meus passeios diurnos. Ele me amava, sabia disso agora. Pensava em tudo o que fizera por mim. Pôs a própria vida em perigo para me manter em segurança, bem como outros como eu. O toque dele, não podia negar mais, me fazia delirar. Estava pronta para me entregar a ele. Foi neste instante que uma mulher tão linda quanto à aurora veio na minha direção, em passos suaves e coordenados, felinos. Possuía uma perfeição quase inumana. Olho ao redor, nada, mais ninguém. Ela sorri de canto, se aproxima mais, num piscar de olhos, está me segurando pelos ombros.
- Uma negra nessa época! Sofreu muito? – fez uma breve pausa. – Pois, vai sofrer muito mais. Tadinha, é traumatizada. Não consegue gritar em situações de perigo?
Comecei a me debater. As imagens das senhoras me torturando, por pensarem que eu era amante de seus maridos, me vinha à mente, junto com dos escravos e dos próprios senhores querendo me violentar.
- Nossa, eu sinto tanta pena de você. Foram quantas chibatadas até agora? – sorria maternalmente.
Ela me largou, quase não sentia minhas pernas. Comecei a correr, tropeçava e me ralei toda. A vinte metros da porta meu cabelo foi bruscamente puxado e senti seu hálito quente no meu pescoço.
- Tolinha.
Ela me arrastou. Fui arremessada, bati a cabeça e um líquido quente e viscoso escorreu pela fronte. Levantei, joguei meu corpo contra o dela e fui atirada longe. Ficamos em pé, uma de frente para a outra, como numa rinha. Ela mostrava seus dentes e eu a ataquei com golpes de capoeira.
- Você está tão divertida desta vez.
- Flor? – a voz de Romildo, um dos escravos.
- Cansei da brincadeira. Vou curtir as praias do Rio com Damen. Até a próxima!
Sem que eu pudesse pensar, quebrou meu pescoço com destreza, tudo ficou escuro e meu corpo inanimado deslizou pelo dela. Acordei sobressaltada no meu quarto, Damen lindo ao meu lado. Por mais que soubesse que era um pesadelo, fruto da história que ele havia me contado, sobre nossa vida no Brasil em 1763, ainda sentia o perfume de Drina no ar e o eco das suas últimas palavras em meu ouvido. Tinha parecido tão real e Damen não me contava sobre minhas mortes, pois não presenciou nenhuma. Só sei que a dor da morte estava em mim, como nunca.

Sonhos Reais - versão estendida (FIC)



Eu sentia sua presença naquele local. Depois de dias de viagem numa caravela, eu pisava nas fofas areias daquele povoado. Era 1763, o marquês de Pombal determinava a transferência da sede do governo geral para o Rio de Janeiro. A cidade estava empolvorosa. Um menino de uns 14 anos de idade, que vendia jornais nas ruas, explicou-me o motivo e acrescentou que a necessidade da mudança era para ter o centro administrativo mais próximo das regiões de mineração, além dos frequentes conflitos com os vizinhos espanhóis nas regiões Centro-Oeste e Sul. Neste momento tentei esconder mais ainda meu sotaque italiano, eles confundiam muito. Eu precisava te achar. As vestimentas da época ajudavam bastante no que dizia respeito a minha idade aparente. Podia perambular sozinho e com um documento grilado facilmente me tornei dono de uma terra de 100 alqueires, uma bela e aprazível mansão colonial e dono de 70 escravos. Não me olhe assim, era natural o comércio de negros e até índios. O importante é que numa tarde calorenta, encontrei você. Inacreditavelmente linda, como sempre.

domingo, 26 de setembro de 2010

Musicais na Telona ou Telinha Mesmo

Filmes musicais... não tem muitos por aí (bons). Mas expressarei um pouco da minha decepção com o mais recente Nine. Pela divulgação parecia mais um Moulin Rouge ou Chicago, no quesito produção, não me refiro a trama. Deixo aqui minha apreciação pessoal à perfeição de Moulin Rouge. Mas, Nine apareceu fraco, com pouca criatividade e ângulos de filmagem um tanto quanto questionadores em algumas cenas. As  musicas, realmente, muito regulares. E o que foi aquele final???? Todas as personagens aparecendo... ui! Tudo bem, se a proposta era mesmo aquela, pelo menos podiam ter pensado melhor na hora da direção, ficou esquisitíssimo. Louvor a cena musical de Fergie, na minha humilde opinião, a única que vale a pena. Muito bem dirigida, iluminação boa, coreografia impecável e figurino perfeito. Não vou pegar muito pesado, porque o que penso desse filme não é nada bom. Ainda espero algo no estilo Moulin Rouge e Chicago, quem sabe um dia... Para os fãs de Nine (se é que existe algum), fica o consolo de que o enredo era bom, só foi mal feito mesmo. Ah, não posso esquecer de Grease, lançado em 1978, maravilhoso!!!!!!!

deixei as duas fotos de Nine por último - proposital...
p.s.: os outros três filmes não estão por ordem de preferência nem de melhor qualidade.

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Anjos das Trevas

Existe um livro chamado Anjos das Trevas - O Início, escrito por Fernanda Vernon. Não o li, mas pretendo, mais para frente, já que existe uma pilha ainda por ler (ai, delícia!). Mas algo me chamou muito a atenção na livraria quando o vi exposto na prateleira. A capa. Céus, como foi mal escolhida! Para mim, apenas um corte na foto já seria o suciciente para resolver o problema.


Capa original

Minha primeira sugestão

Segunda sugestão

A expressão facial da modelo ficou agressiva demais, caindo no feio, vulgar. Sem contar que ficou um contraponto muito grande no que ela passa com o que ele passa. Nenhum deles é "feio". A beleza é muito relativa. Pessoalmente não sou a favor de construir uma capa com fotos de pessoas reais, prefiro mais estilizada, trabalhada virtualmente, ou mesmo manualmente. Em geral, quando se usa pessoas, gosto da escolha de utilizar close-ups. No entanto, cada um é um e é assim que o mundo gira.

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DV - Diários do Vampiro



Diários do Vampiro, a série, pouco tem a ver com a coleção literária de L.J. Smith. Li os três primeiros e digo com convicção, que a série televisiva apenas se baseou na idéia dos livros, já que nem as personagens possuem as características físicas dos originais, muito menos as psicológicas.
No início da trama, não gostei nem um pouco das mudanças. Claro, queria ver materializado na telinha tudo o que tinha lido. Não foi bem assim, mas com o tempo acabei me acostumando com a nova história de mesmo título dos livros. É assim que me refiro a série apresentada pela The CW. Critiquei verbalmente e muito desde o roteiro até as atuações. Os roteiros, hoje, digo são bem elaborados, era apenas irritação pela diferença com a história já lida. Aliás, até que enfim uma mocinha, que não é bobinha. Quanto às atuações, bem, não era irritação, pois não eram boas mesmo, melhoraram e bem. Comentarei, brevemente, a do triângulo. A dama primeiro. Nina Dobrev, que interpreta Elena Gilbert, era regular, não convencia, mas melhorou muito e não é para menos, precisaria interpretar duas personagens completamente diferentes. Paul Wesley, que interpreta Stefan Salvatore, o irmão bonzinho (ainda bem que ele teve sua época de revolta, estava muito chato), mesmo assim, ainda não convence, péssimo. Ian Somerhalder, que interpreta Damon Salvatore, o irmão bad boy, este se melhorar estraga, ótimo desde o início, ao meu ver, o melhor ator da série.
Como uma boa devoradora de séries de televisão, mal posso esperar pela segunda temporada em DVD. Retifico, o roteiro é muito bom. Óbvio que a gente sempre espera mais, pois quer colocar nossa visão dos acontecimentos, mas ela é escrita e produzida por Kevin Williamson, roteirista de Dawson´s Creek, uma bagagem e tanto de sucesso.
Abro espaço para dizer sobre as fotos de divulgação. Primorosas! Uma mais bonita que a outra. E os vídeos de PROMO, vejam no Youtube, maravilhosos. Todas as equipes estão de parabéns.
Termino com uma questão que me persegue. Por que o mais lindo e sexy dos irmãos é o mais rejeitado?
Como diria um amigo meu, fica a dica: Elena deve ficar com Damon. Af, dei uma de garotinha agora... Mas é o que penso!
Posto a seguir a foto que me tira completamente o fôlego e alucina.


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Lya Luft



 LYA LUFT
Magistral - esta é a palavra perfeita q encontrei para exemplificar o talento desta autora em suas obras.
Seus livros não são dedicados ao público juvenil, pelo contrário, mas as idéias e frases valem por tudo, para todas as idades!!!!
Ela nos passa uma sabedoria incrível e nos leva ao mundo real de forma agradavél e ao mesmo tempo chocante.
Não me estenderei muito, pois não há p que falar desta pessoa maravilhosa. Deixo claro qu enão a conheço pessoalmente, mas sempre temos um cadinho dos autores em suas obras.
A leitura vale muito a pena!
Alguns deles:

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Diário de um Anjo, de Mandy Porto

Estava eu "navegando" pelas ondas insaciáveis da internet quando me deparei em um blog chamado YA lover Geek - My Little World of Books, de Mandy Porto. O espaço construído ali é bem bacana. Mas fiquei realmente feliz quando li o post Capa do meu livro ~Diário de um Anjo~. Há dias escrevi aqui que não postaria mais nenhuma capa e etc. No entanto, esta, é por um bom motivo, pela grata surpresa de uma bela capa:





As cores foram bem escolhidas; a arte desliza pelos olhos gostosamente, quase nos contando uma história, é leve e intrigante; a chamada encontra-se bem colocada; tem luminosidade apropriada; e o que eu acredito ser importantíssimo, o título tem uma fonte em tamanho maior que a da autora, mas não deixaram de destacar sutilmente o Mandy Porto. Não posso ficar sem mencionar um detalhe que amei: a ilustração da capa continua na orelha do livro. Perceba como não perde nada na capa, mas ganha muito quando abre-se a orelha. O que eu mudaria, TALVEZ, seria a cor do título, pois ficou puxado muito para o feminino ("menininha"), escolheria um rubro ou até um rosa mesmo, mas mais queimado, assim agregaria melhor o público masculino. Porém do modo que está não atrapalha em nada.
Tudo é de extremo bom gosto e de acordo com o tema proposto pela obra.
O livro ainda não foi lançado, mas só pela capa, vale a pena!
Parabéns a autora, a editora e toda a equipe que fez parte deste projeto que está para ser concretizado nas livrarias!!!!

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Este post é um pouco antigo, é que precisei reformular um pouco o blogue e esse foi o jeito que pude dar. Portanto, esclareço que o livro jah foi lançado, inclusive a Mandy Porto está com outro nas livrarias: Sussurros de uma Garota Apaixonada.

Prestigie o Teatro



Informações: "LUGAR DAS ARTES"
Rua Julio Prestes, 471 Jardim Aviação
Presidente Prudente – SP
(18)3917-3797


MÊNADES & SÁTIROS CIA DE TEATRO!

Dica de Qualidade!

Tá aí mais uma dica de ótimo divertimento cultural no interior de Sampa!!!!


Curiosidades

Os homens sempre se preocupam com o tamanho e coisa e tal do dito cujo... fala se esta imagem não é muito boa. Hehe!

http://downloads.open4group.com/wallpapers/1024x768/banheiro--masculino-engracado-18207.html
Sintam-se livres para apreciar em tamanho maior e conhecer outras imagens.

Mente Alucinógena


por Ariagne Mendonça

Refletir... ou não. rs

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Ah, se eu pudesse, abraçava o mundo bem forte e o enchia de felicidade plena...
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Queria ter um dia, um dia apenas... sem preocupações.
Mas sei que é impossível. Por mais que tentemos elas estão sempre lá... a espreita.

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Quantas vezes temos maravilhas de pensamentos, não temos como anotar, e eles se perdem. Seria esplendido se um dia inventassem um gravador de pensamentos, um chip, assim q instalado... na nuca, por exemplo, e acionado gravaria tudo o que pensamos para depois utilizarmos. Hehe, é cada coisa que eu vislumbro... ai, ai.
Um dia, um dia quem sabe?!

CERTEZA (terror)

Corria desesperada por entre as árvores, a névoa a engolindo. Nenhum pensamento se fazia ouvir. Todos os sentidos perderam razão de ser. O solo por si já era uma armadilha. Cada passo um tropeço. A corrida tornara-se trôpega. Os galhos, braços do inimigo. As folhas secas apenas ajudavam a compor aquele cenário macabro. Vislumbrou o pouco do céu cinzento, que demorara a nascer com a salvação.
Não adiantava rezar mais. Estava completamente lambuzada de lama e lágrimas. Já não lembrava como se fazia para respirar. Vozes se materializavam e dançavam a sua volta. Desnorteando-a. Imagens confusas saltavam na sua frente. Saias rodadas de sangue; crianças brincando de cortar; velhos rindo dela; palhaços lusco-fuscos, puxando seu cabelo; pernas de pau, girando em longas capas lúgubres; um arpão arremessado; a mão fúnebre a chamava; uma lâmina brilhava, enquanto um sorriso a conduzia e penetrava.
Sacudiu a cabeça zonza. Seus olhos perscrutavam em busca de esconderijo eficaz. Jogou-se por fim atrás de uma pedra. Instintivamente segurou a mão esquerda contra o peito arfante. Olhou, sangrava. Naquele momento soube. Era o fim. Não importava onde estivesse ele a acharia.


*

O BOLO

Em movimentos singelos, mexia a massa do bolo de maçã, enquanto ele entrava na cozinha com passos sinuosos. Senti seu perfume de cravo preenchendo todo meu ser. Suas mãos se encaixaram na minha cintura e deslizaram para meu ventre. Meus olhos na massa, suas mãos subindo, circulam por ali e seguem para as costas. Um arrepio gelou minha espinha. Sua língua na minha nuca. A colher giratória. Seus dedos no meu pescoço, acariciando-o, insistentes, pesados. O cravo sumindo no ar em convulsões. Seu corpo rijo segurando o meu flácido. O cessar de minhas mãos. As maçãs flutuam. O bolo por fazer.


*

CLAURURA (terror)

Mais uma vez aquela vontade de arranhar percorria suas veias em chamas. Ele degustava, sádico, seus pensamentos consumidos pela loucura do instante. Borbulhava em suas entranhas o desejo de matá-lo ali, naquela hora. Tudo seria exterminado num simples corte certeiro, horizontal na garganta. Delicioso.
Precisava controlar seu lado perverso. Mas seu imaginar era incontrolável. Ela não podia com ele, por ora.
Um espasmo e a crescente cobiça por mais.
Apesar da consciência falha, sabia que necessitava de ajuda. Apertou os punhos na lateral do corpo, pendeu a cabeça para a direita, visualizou uma adaga ao brilho do luar. Fixou-se na lua a cima. Pediu clemência.
Um espasmo, dois espasmos e a crescente cobiça por mais.
Buscou por lucidez. Nada encontrou. Ele continuava a sorrir de lado. A ira cintilava em seus olhos como fênix mutilada. Mil situações percorriam sua mente. Os “ses” eram constantes incógnitas e felizes. No entanto, estava longe da alegria de um deles se tornar real. Já era tarde demais.
Um espasmo, dois espasmos, três espasmos e a crescente cobiça por mais.
Outra vez aspirava pelo fim de tudo aquilo antes que enlouquecesse irremediavelmente. Em vão. O prolongamento se estendia por seu corpo, cortando-o, dilacerando-o. Queria cerrar os olhos logo, esquecer para o amanhã chegar. Não podia se conter por muito mais. Seu tempo era curto. Seus anseios insanos. Com dificuldade foi pegar a adaga, ele agarrou sua mão ainda com força extrema.
Um espasmo, dois espasmos, três espasmos, quatro espasmos e a crescente cobiça por mais.
Seu corpo contorceu-se e uma lágrima queimou lhe a face. Pretendia sair ilesa dali, mas não seria possível, de qualquer forma. A dificuldade se arrastava atrás dela, arfando ilusões de um futuro promissor. Pensou em pedir-lhe um beijo de adeus. Não o fez. Mordeu os lábios em reprovação.
Um espasmo, dois espasmos, três espasmos, quatro espasmos, cinco e a crescente cobiça por mais.
Tentou outra vez recobrar a consciência enclausurada. Os suores se misturavam e respingavam na loucura daquela noite lasciva. Sem suportar mais, cravou as unhas em suas costas e puxou-o para si. Ele gemeu entre dentes e caiu. Estava acabado. Os dois, exaustos, adormeceram na varanda em meio às roupas rasgadas.


*

BELEZA NOTURNA (sobrenatural)

Mais uma lua brilhava sua fúria no final da rua 25. Ela estava pronta para sua jornada noturna, que se iniciava a cada pôr, ainda não sabia se do sol ou de sua vida. Os olhos perscrutavam os becos, as narinas a procura do aroma que tanto a enjoava de desejo. Cada músculo fervia pelo néctar quente de sua perdição.
Há muito aprendera a conviver com o que lhe fora imposto. Mas a repugnância persistia como um animal, antes solto, avassalador, agora aprisionado em sua alma, domável. Nada seria como antes, já aceitara.
Em tempos rotos sua vida cintilava como o rei dourado, que reina na abobada azul e que decidira num dia cinzento ser seu eterno inimigo. Sob seu trono, o universo, bateu seu destro e jorrou a luz prata sobre o destino infeliz daquela pobre criatura.
Cercada de amigos e familiares, tinha sonhos comuns, pouco invejáveis. Aos quais daria tudo para tornar a tê-los. Apreciava o perfume das flores, o bater de cada borboleta à vida. Imaginava-se em um casulo, do qual um belo e formoso rapaz a libertaria, levando-a a brincar com ele de ser feliz. Teria uma linda família. Quatro filhos, dois meninos e duas meninas. Eles teriam de ser mais velhos, para protegê-las do mundo na ausência dos pais. Envelheceria em paz com o homem de seus sonhos. Teria netos... os netos... os risos infantis pela casa, pelo campo, no carro e ao fundo, no telefone.
Estes pensamentos sempre vinham acompanhados de uma incomoda lágrima. Finalizava sempre com a palavra ilusão. Nossa, como ela era puritana! Inacreditável! Hoje, para ela, era quase inadmissível tantos princípios arcaicos. Sem contar com o machismo impregnado em sua educação. O qual não fazia mais parte dela. Praticamente fugiam da memória as feições de seus progenitores. Aquela história mesquinha e fugaz que a corroia de desespero por nunca mais poder ser aquela jovem idiota.
Todos se foram. Um a um. Ela se tornara alguém sem passado ou futuro. Apenas existia o presente, a sobrevivência. Ninguém podia fazer nada, dependia só dela. O certo é que existiam pontos positivos. Transformara-se num ser superior, querendo ou não. Precisava se privar de muito, mas outras versões do real se fizeram presentes. Como os sentidos aflorados. Detalhes que passavam despercebidos eram saboreados com ardor. Um exemplo foi quando fez amor pela primeira vez após a nova condição. As sensações multiplicadas em mil. Com essas reflexões se acalmava.
Algo lhe chamou a atenção. Vislumbrou a lua, enquanto uma mecha de cabelo roçava com suavidade a bochecha. Virou-se rapidamente, como por instinto, e o identificou na outra esquina. Ele não a veria, nem tomaria ciência dos acontecimentos. Há anos era cada um por si. Azar de quem não tinha percebido isso ainda. O mundo estava um caos e a realidade estampada em livros de ficção.
Começou a se deslocar em passos delicados, determinados, como um felino faria. Autodidata, tinha adquirido estes movimentos conforme os anos se passaram. Seus olhos vidrados, hipnotizados pelo que viria. A língua umedeceu o lábio superior. As veias saltaram. Verdes. Azuis. Bombas. Não sabia se dela ou dele. Era enlouquecedor.
Ele tinha a vida e ela a tomaria em doses homeopáticas.


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CRIANÇAS DO PENSAR (cotidiano)

De vez em quando dedilhava sua música favorita. Há muito não sentia as teclas sob seus frágeis e encardidos dedos. O que mais sentia era a falta dos entes queridos. Mas, quais? Já não lembrava. A memória tinha cedido lugar ao esquecimento e aberto a vala dos enganos. Estes vinham envoltos a carícias e seduções da mente brincalhona. Na maior parte do tempo sabia que se tratava de ilusões. Mas, de repente se via enganado e perdido, acreditando nas imagens que se materializavam a sua volta. Cada detalhe lhe era percebido e julgado como verdadeiro.
Numa hora agia como um magnata de Wall Street, nem fazia idéia do que era isso, porém havia toda uma lógica no momento. Em outra, encarnava uma madame da elite, podia ser do século atual, como também, servia de séculos atrás, na Europa de preferência. Em alguns dias era uma cigana sorridente e sensitiva. Conseguia uns trocados no centro da praça da cidade, tanto fazia se por causa de suas previsões corretas ou por pena de seus pés descalços. Às vezes até latidos escapavam-lhe, quando se sentia feito cão vira-lata em busca de um pão sujo que calasse seu estômago de ontem. Brincava nos parques que se montavam do nada. De repente lá estava ele, com cinco anos, na caixa de areia, com seus caminhõezinhos, ou entre as bolinhas coloridas. Jogava-se sem parar para o alto, numa alegria só. Ah, como era feliz nas crianças do seu pensar!
Vários nomes o rondavam: Bartolomeu, Silvia, Elisabeth - a rainha, claro -, Hugo Vinícius - possuía um leve sotaque castelhano, pelo menos assim o imaginava -, Glauco, Rômulo, Sansão e Judas. Este último não podia faltar, pois se punha invariavelmente assim. Como se tivesse jogado pedra na cruz, martelado até o além fim e deveria cumprir sua pena por isso.
O clima da cidade não fazia sentido. Um sol de lascar nascia na intenção de arranhar sua pele e anoitecia uma geleira pronta para arrancar-lhe a carne desprotegida sob o toldo de um bar qualquer. Depois chovia sem parar, encharcando sua única manta, deixada por um carro ligeiro, que não voltou para apanhá-la. Encarou aquilo como uma doação, agradeceu às marcas no asfalto, que ainda resguardavam as risadas e o vapor da quentura humana vindas do veículo. Do mesmo modo que vieram, as gotas se foram, evaporaram e deram assento a cálida lua. O inverno ou o verão faziam morada no mistério da vida.
Conseguia ler nos olhos dos passageiros de suas horas a desconfiança, o desgosto - de suas próprias histórias ou da figura que jazia ali, ainda respirando -, a dó e raramente a gentileza com o próximo.
Os dias se repetiam numa jornada incansável. Seu corpo incrustado de músicas melancólicas, que lhe sussurravam a cruel realidade e o protegiam da mesma, gritava por algo que jamais chegaria aos ouvidos alheios de compaixão. Enquanto seus ouvidos ardiam de horas inexatas de sua existência desnecessária.
De vez em quando uma imagem difusa, uma silhueta, um alguém de outrora, que partira dele ou tinha sido o contrário? O fato é que faltara algo... Fora para um vácuo longínquo e sem um adeus.
Então, dedilhava. Dedilhava para sonhar. Uma melodia nostálgica. Para ser outro ele. Para rever Cissa. Ah, Cissa! Como lhe fazia falta nos segundos de lucidez! Os quais nunca o permitiam chegar ao lugar do socorro, ao cais onde seria curado. As ruas apenas voltavam. Nada de idas. Sempre voltas. Sempre um passo atrás. Cissa... Seu toque de aurora. Seus cabelos de primaveras. Suas miradas enfeitadas de atrevimento e carícias. Seus sentimentos brancos, de cores rotas.
No entanto, nada disso doía-lhe mais. As crianças estavam ali, brincalhonas, travessas nas suas loucuras. Ele tinha muito para dar ao mundo. Sonhos de esquinas, de valas e sarjetas. Toda vez uma surpresa para alegrar ou assustar. Lá estavam elas de novo. As crianças do seu pensar.


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VERBO NO PASSADO (amor)


Acredite quando digo que foi muito bom enquanto durou. Não é um clichê, não agora. É sincero. Eu te amei mais que tudo neste mundo, às vezes, até mais que a mim mesma. Acredite quando te digo. Você foi especial.
Era o que Flávia pensava e repassava pela mente de tempos em tempos nos últimos três dias. A parte do verbo no passado era a mais difícil de dizer, já que ainda não era realmente passado. Mas estava convicta de que era o certo a fazer.
Na manhã do dia seguinte faria o que planejara. Despedir-se-ia. Dos dois.
- Sabe que é um erro. – disse Bernardo.
- Espero, sinceramente, que não. – replicou Flávia.
Neste instante chega Alexandre, suado da academia. Olha para os dois, plantados no meio da sala. Não gosta de suas expressões. Há dias vinha notando algo de estranho nas atitudes e olhares de Flávia, apenas não dissera nada a Bernardo para evitar alarde. Mas, naquela hora, tudo estava bem claro para ele. O amigo já sabia e era a vez dele. Disse um rápido oi e prosseguiu para o banheiro, precisava de uma chuverada antes de enfrentar o que viria. Esta também era sua maneira de evitar o inevitável e escapar por mais alguns minutos.
- Xande, espera. Preciso falar com você. – gritou Flávia, num monocórdio.
- Depois. – e seguiu.
- Xande... – disse Bernardo em desânimo e se deixou cair no sofá.
Ela olhou para Bernardo e pediu ajuda apenas com o olhar. Ele abriu os braços no ar.
- Quer que eu faça o quê?
Flávia olhou descrente para ele e saiu em direção ao banheiro. Ouviu o chuveiro, respirou profundamente, tomando coragem e entrou. Alexandre estava nu e a água deslizava pelo seu corpo como notas musicais, enfeitiçando-a. Ela nunca se acostumara com a masculinidade dele. De músculos rígidos, pele lisa e macia, gestos duros. Aproximou-se com cautela, pensou bem em todo texto que diria para convencê-lo. Mas antes que pudesse abrir a boca, ele foi mais rápido. Puxou-a para o box, encaixando-a entre ele e a parede. A água escorreu e penetrou suas roupas. Quando abriu os olhos, estava diante daqueles pares azuis, fixos nela.
- Diga que não me ama mais. – falou Alexandre, com voz firme e decidida.
- Eu não – dizia ela, desviando olhar para baixo, num fio de voz.
- Olha pra mim! - interrompeu-a.
- Não te amo.
- Flávia, não ouse mentir sem olhar nos meus olhos.
Seu corpo começava a tremer levemente diante de tanta confusão. Nem nos piores pesadelos imaginara isso. Cada poro pedia, pulsava por ele. Ela precisava ser mais forte do que nunca. No entanto, não conseguia reunir forças para encará-lo. Suas mãos estavam nos ombros dele, instintivamente grudo-as na parede, longe do homem de seus desejos perturbados. Alexandre saiu da frente dela e do box, pô-se a andar de um lado a outro. Levantou a voz.
- O quê você quer de mim, caramba? Eu faço tudo por você. Tudo o que me pede, lá tô eu fazendo. Odeio, desprezo mentiras e minto todo dia por você. Pra todos. – ele perdeu o foco, olhou para os cantos do ambiente, passou a mão pelos cabelos até a nuca. Ela o deixava perdido. De repente a vontade de chorar. Mas não daria esse gostinho a ela. Respirou fundo. – O que mais você precisa?
- Nada. – disse com voz rouca. Sentou de vagar no chão. A água do chuveiro já a ensopara. Pôs a cabeça entre as mãos, sentia-se nauseada. Sabia que ele seria mais difícil que Bernardo.
- Nada? Só isso? Então vai embora logo! – ele estava molhando todo o piso.
- Xande, eu não consigo mais. Não é natural. Não entendo como vocês toparam essa loucura.
- Te enxerga Flávia. Só topei porque te amo. É tão difícil de entender?
- É, é sim. Quem entenderia? É por isso que mentimos pra todos, inclusive pra nossas famílias, entes queridos.
- Digo tranquilamente que te amo muito mais que a eles.
- Porque você tem problemas, que fogem da naturalidade, com eles. – diz Bernardo, entrando no banheiro.
Flávia levanta a cabeça, olha para ele e dá graças a Deus pelo chuveiro ligado, que esconde suas lágrimas fugidias.
- Não diz isso Bernardo.
- Deixa ele, Flávia. É verdade mesmo. Mas, me responde, Bê, sua família é um exemplo e não tô ironizando, os ama mais ou igualmente a ela?
Bernardo fica em silêncio, encosta-se na parede.
- O que quis dizer é que você tem de tentar entender as dúvidas dela, que gosta demais de todos e prefere voltar a uma vida normal.
- Peralá. Aí temos dois pontos a discutir. Primeiro, sua escapada da minha pergunta e segundo, vida normal? O que tem de anormal na nossa vida? – ele faz uma pausa – Responde a minha pergunta, por favor.
- Deixa ele em paz, Xande!
- Por que? Tem medo da resposta? Se você quer ir embora, deixar pra trás toda essa mentirada toda, então vamos aproveitar pra dizer toda a verdade agora. Responde Bernardo! – fala em tom grave e pesado.
- Eu a amo mais, satisfeito? Mas compreendo a angústia dela e aceito sua decisão. Prefiro vê-la feliz do que torturada desse jeito.
- Você é um babaca mesmo.
- Para, Alexandre! – ela grita e se levanta, sai do box. O chuveiro continua a derramar sua água.
- Por quê? Acha que pode entrar aqui decidida a falar e ponto? Nada disso, querida, vai ter que ouvir também. Segundo ponto. O que tem de anormal?
- Tudo é anormal. Eu não posso amar dois caras igualmente, desejá-los até o último fio de cabelo. E muito menos, eles, aceitarem essa situação numa boa. Além disso, não são nem bissexuais.
- Ei, vamo com calma aí, Flávia. – alertou Bernardo, sem graça.
- Eu sei, Bê. Mas veja como é estranho. Dois caras, lindos, feito vocês, dividirem a mesma mulher numa boa. Ninguém em sã consciência entenderia.
- Agradeço o elogio. Tenho o Bernardo como um irmão, apesar das esquisitices dele. E não quero dar uma de super romântico, principalmente porque estou bem longe disso. Mas, quem entende ou consegue explicar o amor?
Os três ficaram quietos durante um pedaço do tempo, que passou por eles. Os olhares perdidos não denunciavam qualquer clareza. O som da água no box embalava uma triste canção.
- Vou embora. – disse, por fim, Flávia.
Bernardo se virou de costas e encostou a testa na fria parede, inconsolável. Ela o viu, mordeu o lábio inferior e uma ponta de dúvida percorreu sua espinha. Desejou abraçá-lo, acarinhá-lo, garantir que tudo ficaria bem. Mas, não conseguia convencer a si própria quanto a isso. Seus pés queriam ficar, sua mente correr. Dirigiu-se a porta e sentiu sua mão ser retida com delicadeza, lentamente encaminhou a retina e vislumbrou a mão de Alexandre na dela, levantou os olhos aos dele, em prantos silenciosos.
- Fica... por favor. – disse com voz mansa e perturbadora. Jamais chorara diante dela, mas já não fazia diferença alguma. Ela era tudo o que importava.
- Xande... não faz isso, eu suplico. – ficara na dúvida se sua voz saíra no final.
- Você é tudo o que eu tenho.
- Isso é loucura. Você pode ter qualquer uma que quiser. Me deixa ir.
- Eu quero você. – dessa vez foi a voz dele que saiu num fio muito frágil.
- Vou ceder o lugar pra outra.
- Esquece, Xande, eu já tentei de tudo. – falou Bernardo, sem tirar o rosto da parede. Agora suas mãos estavam espalmadas nela também, como se desejasse ficar grudado ali, para não correr para os braços dela. para não rastejar, implorar sua estadia eterna ali, com eles.
Flávia solta aos poucos a mão de Alexandre e sai pela porta, com passos vacilantes, deixando os dois amados ali, parados, sem aceitar sua decisão.
- Se um dia quiser voltar, saiba que não estarei mais aqui. – disse Alexandre às costas dela.
Ao sair do apartamento teve a impressão de ouvir estalos de vidro quebrando dentro dela mesma, vindo direto do peito. A dor era quase insuportável, mas os pés não paravam de andar para frente e os olhos já não enxergavam mais nada.

*

APARÊNCIAS (cotidiano)

Chegou à sala de estar, atirou longe a taça de vidro, que estilhaçou a cristaleira do outro lado. Prosseguiu com passos firmes até ele. Deu-lhe um tapa na face despida de autenticidade. Diante dos mais de 200 convidados, arrancou suas roupas e do alto da escadaria jogou sua máscara aos leões, que vorazes a devoraram em segundos.


*

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Desejos Selvagens

Um fogo penetrava suas veias
Chamuscavam meu querer
Diante de tanta beleza
Sentia-me indigna do seu amor

Minha pele ardia
Enquanto vislumbrava tamanha força
De músculos dilatando
Transformando-se

As garras nascendo para a noite calada
Numa mistura de roupas desfeitas
E a constante luta do ser e estar
Nos olhos inflados do id

Meu eu querendo descer
Alcançar-te
E arrancar-te das trevas
Mostrar-te a imensidão de luz em mim

Nesta torre que me colocas-te
Por segurança, pergunto
Por que te sinto
Nestas horas de solidão e espera pelo amanhecer?

A última lua não chega
Neste teu caminhar
Convertido nas batalhas
Do ficar ou ir

A magia do luar alcança nossas peles
E te atira no abismo
Para longe de mim
Para longe dos meus abraços

Naqueles instintos triplicados
Tão conhecidos
E temidos
Por nós

Mas quando o sol libera teu sorriso
Sou eu quem te liberto da agonia
Acalmo o sofrer
E beijo o corpo calejado da noite

Enquanto isso
Resta-me a janela
Para ti, seguir
Para nós, a esperança

...Nos olhos inflados do id
Uma lágrima isolada
Um adeus na madrugada
Um rastro de poeira
Enquanto eu digo até logo.

*